O
conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria um universo de seres e
acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de
ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente,
diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela
ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem
apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o
que não acontece com o conto. O conto é conciso.
LONTÉZO
Lontézo, um jovem audacioso, filho de camponeses, os quais fugiram de sua terra natal Monte Silley, após uma guerra entre os reinos vizinhos pela conquista de território. Seu pai Téglio, um homem bondoso e honesto, viu seu lar sendo consumido pelo fogo, que vivia junto com sua esposa Lina. Desesperado, pegou na mão de Lina, que tinha aos seus braços Lontézo, recém-nascido fruto de um amor à primeira vista. Sem muitos recursos, correram para a margem do rio e fugiram em um barco, construído por suas próprias mãos.
Amanhecendo o dia, ainda no barco, levado pelas correntezas do grande rio Tillus, que os ancestrais acreditavam que ele cortava os dois lados do homem, o da sabedoria e o da ignorância. Téglio pensava na noite anterior enquanto olhava Lina e seu filho dormido. No conflito travado da ambição pelo poder de alguns que causou milhares de mortos. Ele não sabia quantos sobreviveram, mas prometeu que cuidaria de sua família em um lugar, a qual a terra não esteja marcada de sangue.
Após oito anos da Guerra de Silley, como ficou conhecida, Téglio e sua família vivem em uma terra nova, próspera e fértil. Um vilarejo além das montanhas, chamada Colina Branca, pois só existia uma colina ali e no inverno sua vegetação rasteira, ficava coberta de neve. Dizem os habitantes que no verão a terra absolve o manto branco de neve, enriquecendo o solo. Téglio ensinava Lontézo desde pequeno a cuidar do gado, da terra e das plantas, sempre lhe dizia que o homem é o responsável em manter o equilibro da natureza no qual Deus criou, enquanto Lina trabalhava junto com outras mulheres na lavoura.
Era um bom lugar para viver, todos do vilarejo estavam contentes pelo o que faziam e onde morava, um lugar belo, tranquilo e fértil.
Aos doze anos Lontézo aprendeu a cavalgar com um senhor chamado Hulto, um velhinho muito simpático que adorava contar histórias sobre seu passado, porém algumas eram imaginárias. Lontézo se apaixonou por Sophia, uma linda menina de olhos claros, eles passavam um bom tempo juntos. Ao fim de algumas tardes eles subiam no alto da colina para ver o pôr do Sol, em direção ao rio Tillus. Foi amor à primeira vista, igual a dos seus pais.
Após seis anos, Lontézo cavalgava longe do vilarejo, quando avistou quatro cavaleiros armados, ele correu de volta e disse ao seu pai sobre o ocorrido. Téglio e Lina ficaram preocupados se eram do reino Inkss, que causou guerra em Monte Silley. Então o pai de Sophia se ofereceu a ir ao reino Inkss para saber o que estava acontecendo por lá e garantir a segurança de todos, já que eles estavam distantes de qualquer reino. E as terras do vilarejo Colina Branca não pertencia a nenhum rei. O povo já estava com medo de que seus lares fossem palco de uma guerra. O pai de Sophia partira pelo amanhecer, numa viagem que duraria cinco dias.
Após alguns dias, Lontézo e Sophia passeiam a cavalo nos limites do vilarejo. E quando chegam perto do rio Gaçu, eles descansam debaixo de uma árvore e Sophia surpreende Lontézo ao dizer que ela estava grávida e que ele seria pai. Fruto da noite de Lua cheia que passaram juntos no campo. A reação dele foi imediata, ficou muito feliz em saber que seria pai. Voltaram para o vilarejo e Lontézo chegou gritando que seria pai, Téglio e Lina vão correndo em direção deles emocionados e abraça-os. Sua mãe lhe disse que eles iriam construir um futuro juntos, com a sua própria família e que seriam felizes. Como Lia e Téglio eram.
No dia seguinte o pai de Sophia chega de sua viagem com más notícias. Ele reúne todos e disse que o reino Inkss planeja uma nova guerra, formando um novo exército e que seria no próximo inverno. O povo do vilarejo se desespera, com muito medo, mas Téglio lhe pediu calma e dizendo que todos iriam se preparar para a guerra, se defendendo, construindo espadas e escudos para a guerra. Mas o pai de Sophia disse que eles eram poucos em comparação com o exército de Inkss. Então Lontézo se propôs de ir ao reino do Sul, na tentativa de conseguir uma ajuda para o confronto. Téglio permite que ele vá e rapidamente se despede de sua mãe e de Sophia, dizendo que faria de tudo pela segurança dela e de seu filho. Juntou suas coisas e partiu no mesmo dia.
Depois de alguns dias de uma viagem cansativa, Lontézo pensava se iria conseguir ou não ajuda para salvar o vilarejo, quando é surpreendido por guardas do reino do Sul e é então capturado e levado. Chegando ao reino, os guardas o conduz para a sala do rei e o joga bem na frente dele, dizendo que o encontraram nas redondezas do vosso reino. Lontézo explica ao rei o motivo que o trouxe para o reino do Sul e pela sua supresa, o rei concede ajuda com o seu exército. Ele fala com Lontézo que o rei de Inkss é seu primo e há alguns anos ele declarou guerra contra o seu reino, para obter o seu lugar no trono e assim ficaria mais poderoso. Então o rei do Sul manda os ferreiros forjar espadas para os homens da Colina Branca e fala com Lontézo para que eles fiquem prontos para guerrear.
Saindo do reino do Sul, Lontézo volta para Colina Branca mais confiante de que venceriam a guerra. Ao chegar ao vilarejo, anuncia a boa nova ao povo que conseguira ajuda do Sul na guerra.
Após alguns meses nasce o primogênito de Lontézo e Sophia que é batizado pelo nome de Gennaro, escolha feita pelos avós paternos alegando que o nome viria de um valente guerreiro germânico. Lontézo estava tomado por uma alegria ao nascimento de seu filho, entretanto se encontrara transtornado por um sentimento de apreensão e angústia, pois o inverno se aproximava e trazendo consigo a temida guerra.
Semanas se passaram, Lontézo estava apreensivo, porém confiante, pois o exército do reino do Sul estava a caminho do vilarejo pronto para a grande batalha. As mulheres, crianças e anciãos foram se refugiar no alto da colina, símbolo do vilarejo, e lugar seguro em casos de exílio.
O exército aliado já estava pronto, os homens do vilarejo todos preparados, à frente estaria Lontézo, apreensivo, todavia cheio de coragem e vontade de proteger sua terra e seu povo. Já se ouvia o cavalgar dos inimigos, gritos dos cavaleiros Inkss tomavam o vilarejo, estavam em número maior que o esperado, portava armas de ataques precisos e instantâneos. A batalha mal começara e Téglio já se encontrara decapitado, os cavalos da frente do exército do Sul já haviam sido flechados, porém, muito bem treinados os cavaleiros do Sul davam seu sangue pela batalha, uma cena de terror tomava o pequeno vilarejo da Colina Branca, muitos dos homens que constituíam a história da comunidade não passavam agora de cadáveres esquartejados, quantas histórias de valentia se decepavam em meio a dor. A força dos Inkss ia se esvaindo, cheios de ódio, movidos pela ambição de um rei autoritário e impiedoso, enquanto os cavaleiros do Sul junto aos moradores da Colina Branca eram levados pelo desejo de paz e trazer para seu povo a tranquilidade de serem possuidores de sua própria terra.
Covardemente o vilarejo havia se tornado um inferno em chamas, corpos esfaqueados por espadas afiadas e frias se amontoavam e eram queimados junto ás cabanas dos moradores. Esses estavam em pânico refugiados no alto da colina, de lá assistiam ao terror, as esposas sofrendo de uma dor talvez pior que a lamina das espadas contra os corpos, não se sabia ainda quem eram os vencedores, só pânico, corpos, vidas que agora já se contavam como heróis, os poucos cavaleiros Inkss que sobraram fugiram, pois já não se via força nem fôlego para aguentar sequer minuto de batalha, além disso, se encontravam em minoria.
Já amanhecia o dia, já não se avistava a neve, um tapete de sangue havia se formado pelo vilarejo, crianças e mulheres choravam a perda de seus entes queridos, anciãos exclamavam a cena nunca vista em suas vidas. Ao passar os dias, a tristeza aos poucos era amenizada pela sensação de vitória e de coragem que o levaram a esse fim.
O arvoredo, a calmaria, e tudo de puro que se havia no povoado, não passaram de cinzas, lembranças de valentia, vidas que deram sua vida em troca da paz de seu povo, o sangue sobre o chão refletia a tristeza e a marca da soberba e ganância de um homem. Diante da imensidão do vermelho sangue, se destacava, ao longe, o branco da destemida e pura Colina que guardava consigo o alimento e a segurança para aquele solo, além disso, refletia a esperança, o verão voltaria e traria a paz que tanto o povo buscou.
Lontézo sobrevivera a guerra com sentimentos que difundia seu peito, por conquistar a liberdade de sua terra, e a tristeza de perder amigos. Mas de uma coisa ele tinha certeza, cada gota de suas ações respingadas na terra é absorvida pela mesma, que irá alimentar as raízes das árvores e que dará frutos de suas próprias escolhas.
Enquanto o homem for canalizado pela sua ambição ao poder, ao seu benefício próprio e esquecer-se de dar valor no que realmente importa na vida, sempre haverá guerras, mortes e provavelmente não existirá um futuro.
FIM.
Leonardo Menezes